quarta-feira, dezembro 17

O Rock'n Roll é o último que morre...


Coisa raríssima hoje em dia, a manutenção de estilo e até de valores se tornou, pra mim, uma obsessão, principalmente quando o assunto é música. É bem devido à essa rara manutenção que últimamente tenho evitado ouvir coisas novas de bandas ou intérpretes mais velhos. Longe de mim, me tornar um museu com duas pernas, mas defendo a idéia de sair de casa sem jamais esquecer onde você nasceu.

Os agora senhores do AC/DC provaram que também defendem isso. Ainda há pouco terminei de ouvir o novo trabalho dos Australianos e graças a Deus consegui sorrir ao final da última faixa. Black Ice veio pra estampar definitivamente como uma banda de rock da velha guarda precisa se comportar se quiser manter seus fãs que já têm cabelos grisalhos. Ao longo da viagem de 15 faixas do 16º CD dos caras, a fidelidade em relação ao estilo vai surgindo cada vez mais forte, em cada nota. Angus Young continua com suas distorções antigas e deliciosas e Brian Johnson ainda tem as mesmas cordas vocais de quando entrou na banda em 1980. Quem não conhece e ouve, pode perfeitamente afirmar que Black Ice veio antes de Back in Black de 1980, por exemplo; e isso deveria ser invejado hoje em dia.

Os méritos também devem ir ao produtor do álbum, o velhaco de guerra Brendan O'Brien, que assina também a produção e a mixagem de trabalhos de bandas como Incubus, The Offspring,
Audioslave, Pearl Jam, Rage Against the Machine, dentre outras.

Fato é que, o AC/DC fez um trabalho impecável, gostoso, nostálgico, fiel e quase impossível de parar de ouvir. Manteve a linha de sempre, com aquele hard rock cru, simples e vital; acima de tudo deixou claro como seria bom se outras bandas do velho rock puro e tradicional construissem e mantivessem suas carreiras alimentando nossos ouvidos com os riffs que os consagraram. Não é verdade, senhor Axl Rose? Não concorda comigo, Dinho Ouro Preto?

Vida longa aos tiozinhos do AC/DC!

segunda-feira, dezembro 15

A Volta dos Que Não Foram


O cinema nacional já tomou muitas esferas, mas nenhuma tão divertida, emblemática e importante como a que estamos vivendo. Estamos condicionados a pensar que nada mais presta na nossa geração, e que não há nada de novo, mas muito pelo contrário...

Há alguns anos, o cinema brasileiro não era mais importante que a literatura. Era essa segunda que desempenhava o papel principal de mostrar à sociedade os problemas e cenarios do cotidiano. Durante décadas, a literatura brasileira se preocupou em retratar o brasileiro e suas diversas faces, desde Macunaíma às obras de José de Alencar. Hoje, a geração entre os 30 e 50 anos tem autores de excelente domínio técnico da narrativa, os romances não se preocupam mais em retratar o Brasil, e já não pautam o debate cultural. Essa função cabe ao cinema. Mais do que nunca.

Essa visão mais complexa da realidade, leva a população a entender melhor a realidade do país, e chega facilmente ao dia-a-dia brasileiro, que tem a vergonhosa marca de não ler nem 1 livro por ano.

Filmes como Tropa de Elite comovem muito mais do que toda a obra de Glauber Rocha somada. O cinema brasileiro pode ainda não ser a indústria que pede a lei do Audiovisual, mas já mobiliza e concientiza grande parte das pessoas que ainda buscam se atualizar com a realidade nacional.

Chega a hora da geração atual abrir os olhos e deixar a saudade de lado. Temos incríveis profissionais, dispostos a mostrar ao mundo como o cinema brasileiro ainda tem a força mostrada pelo Cinema Novo, e que está pronto para o ficcionismo-real que abate a verdadeira história do Brasil.

segunda-feira, dezembro 1

Burn After Reading, 2008


Saudosista. Não sou saudosista, e tampouco cabeça fechada ao ponto de não aceitar novos diretores e novos atores. Mas o que escreverei abaixo, é a mais pura opinião de alguém que realmente não está entendendo mais nada. A mais recente produção dos irmãos Coen mantém uma temática que percorre grande parte de sua filmografia: o bizarro e o grotesco. Ao contrário de David Lynch – cineasta que trabalha com esses temas, conhecido por realizações de difícil compreensão –, que cria um universo próprio em (muitos dos) seus filmes, os Coen brincam com o invulgar em um mundo totalmente real.

O roteiro mostra uma incrível habilidade de fazer um enredo sobre nada. O filme todo discorre de uma não-trama, uma não-conspiração, e somos obrigados, ao fim da película, a tentar entender porque diabos ficamos tanto tempo sentados naquela poltrona, esperando algo fazer sentido. Um interessante tema do filme é a paranóia. Principal produto de exportação da sociedade estadunidense da segunda metade do século XX, a paranóia ganhou o mundo e, hoje, já não é mais exclusividade dos norte-americanos. Outros filmes já exploraram este tema no ano que passou, e ainda o medo e a insegurança em que vivem os americanos. Mas este filme, tem um toque especial. Não se fala em bombas ou ataques terroristas, e sim do anti-patriotismo que toca alguns americanos, quando seus interesses estão em jogo.

Outro ponto que me leva ao que escrevi no início do texto, é a falta de ligação que os diretores formam entre o personagem e o telespectador. Quem, algum dia, vai se esquecer da família Corleone? Ou ainda, do Vicent Vega, em Pulp Fiction. São personagens, que embora vilões, foram maquiados para nos fazer pensar que eram bonzinhos. Todavia, isso não acontece com os irmãoes Coen, que fazem questão que não tenhamos nenhuma ligação sentimental com os personagens de sua trama, que nem sempre sobrevivem, sejam bons ou vilões.

Entre essas e outra é que ainda não posso dizer que formei uma opinião sólida a respeito desses irmãos. Terei que esperar a próxima.